sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Laços informacionais




   
 Laços informacionais
    
  Por Álvaro Vinícius de Souza Silva
  Agosto de 2015




   É preciso, às vezes, entender o laço entre as informações diárias, tentando rastrear a constituição temática de cada uma e o modo pelo qual se exteriorizam para o público em geral. Por esse ínsito dever, abstém-se naturalmente da possibilidade de discuti-las como meras representações estacionárias ou como asserções que possuem algum respaldo de certeza ilibada, a qual tenderia a se encerrar em bases teóricas supostamente fundamentais.

   No mundo contemporâneo, quando os diferentes veículos de informação obtêm êxitos comunicativos em um arranjo multifacetado de interpretação, o fluxo semântico entre as informações afasta a simplória ideia de uma conexão linear e segmentada entre as informações e aproxima-se da ideia geral de laço informacional, uma espécie de entrelaçamento auto-organizativo. Nessa perspectiva, seria difícil realizar a dissociação radical entre o sentido atribuído às informações e a exposição objetiva da informação. Enquanto a objetividade realiza o endereçamento técnico-estrutural, ao ponderar as principais relações entre os elementos de uma notícia, um conjunto de forças de interesse pessoal, de ordem corporativa e de matiz ideológico estabelece um sentido ou ênfase em determinados assuntos, articulando-os sob um corpus logicum de interpretação. Portanto, a pretensa imparcialidade dos meios de comunicação não indefere os seus meios de interpretação. Aliás, são esses meios que categorizam as informações pelo senso de objetividade e formatam-nas pelo censor da parcialidade.
 

domingo, 9 de agosto de 2015

A imprecisão resolutiva e uma lição de Heisenberg


Lei nº 9610/98: " Art.7º São obras intelectuais protegidas as criações do espíritoexpressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido (...) I- os textos de obras literárias, artísticas ou científicas."


A  imprecisão resolutiva e uma lição de Heisenberg

Parte 1

Escrito por Álvaro Vinícius 


Restringe-se para precisar, mas perde-se pela precisão quando se alcança o oráculo da especialidade.


 Werner Heisenberg [1]


 As apressadas análises da conjuntura política e institucional do país se comportam como desdobramentos opinativos de algum eixo de inferência crítica, sobretudo em sua maior ênfase de previsibilidade momentânea. De um flanco ideológico a outro, notabilizam-se algumas perspectivas que se limitam ao período pré-eleitoral e pós-eleitoral, sob uma razoável fidelidade à identificação clara dos índices econômicos ou dos aspectos sociológicos mais estimados pela intelligentsia universitária. Dentro dessa aparente diversidade analítica, apreende-se a seguinte característica: a contumaz tendência de interpretar a realidade atual pelo impacto que ela representa, porém não pelo que ela essencialmente reflete em um conjunto de camadas menos coerente com as especialidades de cada um.

  Enquanto um economista restringe a avaliação do agitprop cultural e enaltece a precisão da análise econômica do país, um sociólogo tenta precisar certos pressupostos como as principais peças teóricas que mapeariam toda a realidade política e institucional -- e há quem diga que, em algumas entrevistas, adquiram a alcunha de "cientista político" por tal consultoria. De certa maneira, não há nenhum erro em turbinar cada especialidade do conhecimento, contanto que a captação de uma realidade de estudo não seja obstruída pela primazia de uma formulação técnica de pesquisa acadêmica, da qual procede, muitas vezes, uma sofisticação meramente verbal e uma consequente roupagem aparentemente científica entre cada termo usado e cada palavra postiça. Com uma atenção básica ao famoso princípio da incerteza de Werner Heisenberg, descobre-se facilmente a seguinte lição: restringe-se para precisar, mas perde-se pela precisão quando se alcança o oráculo da especialidade. Com efeito, resta-me pensar sobre a imprecisão como uma via resolutiva para uma compreensão menos abstratamente pomposa da realidade política atual. E segundo algumas tradições místicas, uma percepção lúcida se sobrepõe a qualquer fragmentação. Mas, talvez, a mística não seja a recomendação ideal para os economistas e sociólogos de plantão, pois já possuem sua própria "magia cerimonial" em cada espetáculo, em cada entrevista. 


Notas:

1-https://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Bundesarchiv_Bild183-R57262,_Werner_Heisenberg.jpg