quinta-feira, 12 de março de 2015

Um preludio sobre as artimanhas da polêmica


Lei nº 9610/98: " Art.7º São obras intelectuais protegidas as criações do espíritoexpressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido (...) I- os textos de obras literárias, artísticas ou científicas."

Um preludio sobre as artimanhas da polêmica
Parte  1

Escrito por Álvaro Vinícius de Souza Silva


 Em pelo menos uma das partes de uma discussão polêmica contemporânea, independentemente de seu fustigo teor ou de sua especificação doutrinal, arremata-se um deliberado e crescente sistema de coerência que normalmente se fecha em função do que pode desconstruí-lo, baseando-se numa tutela de funcionamento que se reveste de uma determinada aparência de validade. Trata-se, portanto, do embalsamar de sua premissa fundamental, a qual denomino de afirmação α (alfa), a principal expressão da base canônica do escudo argumentativo, que se contrapõe ao que um indivíduo ou grupo afirme criticamente em relação a α, e vice-versa. Constata-se, nessa situação, uma espécie de force ad gravitatem entre os argumentos, as ilações e as opiniões, à qual se deve, em ex officio, a coordenação da matéria factual e de propaganda no ardil linguístico da intransigente defesa. Se alguém, hipoteticamente, disser que a causa do subdesenvolvimento do Brasil é a colonização, possivelmente mostrará fatos específicos que se insiram em um dos eixos de interpretação das "ciências sociais", ao figurar um esboço teórico por reflexo direto ou indireto da matriz acadêmica de axious social e cientificista, um verdadeiro aqueduto de construção moderna e acabamento contemporâneo, embora isso não a despreze em seu esforço explicativo e em sua sensibilidade teórica. Como ferramenta acessível à intransigente defesa, entrará em cena o artifício de propaganda tanto pela via do "proclamar do falastrão " - o vulgarismo retórico - quanto pela via da "contundência afirmativa" a partir da ressonância à ideia propositiva, a qual conexiona a causa do subdesenvolvimento à colonização. Essa ideia propositiva nada mais é do que a base canônica de toda a argumentação, a fonte da qual emana a altiva variação de perspectivas que gravitam somente em torno dela própria. Mesmo assim, haverá pelo menos alguma descrição fidedigna de uma realidade que influenciou, de certo modo, o subdesenvolvimento do país, o que não quer dizer que será uma explicação definitiva e correta dessa realidade. 


 









  

segunda-feira, 9 de março de 2015

Apenas, somente apenas, “caras” pintadas?

Lei nº 9610/98: " Art.7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido (...) I- os textos de obras literárias, artísticas ou científicas."

Apenas, somente apenas, “caras” pintadas?

 Escrito por Álvaro Vinicius de Souza Silva

 Uma geração tenta se diferenciar da outra, mas o “novo estilo” mantém os mesmos vícios da anterior: agir pelo que é benquisto quanto à identificação dos problemas, pois, nesse caso, o benquisto é o efeito aprazível do mediano, do que é comum e acessível, do que é facilmente ajustável e bem recebido no inquirir. Afinal, o que estimula o compartilhamento do mesmo caráter reativo aos problemas, se não a sensação de segurança proporcionada pelo modo de analisar e agir conforme os “coletivos” ou o “coletivo em geral”, como se a histeria ou a aparente razão de cada grupo fosse o substituto direto da capacidade de avaliar se uma explicação é “verdadeira” ou “falsa”, "correta" ou "errada", e se sua correspondente ação mobilizadora viabilizasse uma inequívoca solução? Refiro-me a grupos politicamente organizados ou não, que normalmente cifram explicações ou opiniões a partir de uma condição de atributo emocional a quem os teleguia a agir pelo espírito de massa, com base em alguma referência partidária, ideológica ou pela própria ignorância. Não sou contra nenhum movimento que se paute por melhorar a situação do país ou lute contra um grupo criminoso que se instalou no Poder. Aliás, ser contra ou ser a favor é uma exigência bocó, como se houvesse, nesse caso, um acordo intrínseco à realidade da crise, na qual se tornaria proibida, ao menos de modo implícita, a ausência de posição. Muitas vezes, essa “exigência” subordina a pertinência de qualquer argumento ao critério de escolher entre uma ou outra posição política, o que dá formidável abertura ao ativismo de desqualificação perpetrado por grupos que são imbuídos por ideologias políticas. Nessa situação, costumam deformar os argumentos que asseveram os fundamentos de um complexo processo de análise conjuntural – bem mais amplo, “sério” e “científico” do que ser a "favor ou contra" -, já que põe em xeque o que defendem em relação a algum movimento.

    Quando uma determinada fração dos problemas – principal exemplo: corrupção -, alçada ao principal mote do movimento, inaugura a estrita perspectiva de que, caso o protesto tenha êxito, haverá a solução definitiva para todos os problemas nacionais, uma relativa distância deve ser postulada como medida de precaução, mas não como forma de negar esses problemas na política brasileira, nem de propor a culpa exclusiva em governos pretéritos, como se o atual - o grand finale da política - eliminasse qualquer possibilidade de originar algum esquema de corrupção que poderia ser descoberto em uma investigação no futuro, especialmente na hipótese de um governo com novos agentes políticos - o pós grand finale

     Enfim, movimentos não são cartesianos, dissecados nitidamente; ao contrário disso, são imprevisíveis na sua dinâmica de ação, uma característica marcante da manifestação em grupo sob o calor das emoções, mesmo que tenha sua razão de ser.  No entanto, não devem seguir a própria ingenuidade que os alimenta. Como em gerações passadas, é provável que alguns pintem as caras como os "caras pintadas" ou se comportem como "caras pintadas". Entre uma alternativa e outra, urge a seguinte indagação: " apenas, somente apenas, “caras” pintadas?". Se há ainda tanta corrupção após o "glorioso" feito dos "caras pintadas", só há uma resposta: eis a questão!




                                                       Caras pintadas--1992






Álvaro Vinícius

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Possui formação em Engenharia Elétrica. Nas horas vagas, escreve para o blog Polymath Sirius ASociety sobre Ciência, Política, Matemática, Filosofia Natural e Música.
É escritor, compositor e violonista.